quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos

You Will Meet A Tall Dark Stranger, de Woody Allen, 2010.


O novo Woody Allen eu perdi nos cinemas. Pena. 
Mas o importante é que o homem tá vivo e lançando o seu filminho todo santo ano. E que baita prazer que é ver o novo Woody Allen, einh! Todo ano é a mesma coisa. Uns dizem que ele não é mais como antes, que este é um woodyallen menor, que este ele dirigiu com preguiça. Foda-se. Seu estilo é único, seu universo ficcional é riquísssimo, seus diálogos são de uma elegância insuperável.


E este novo trabalho é um filme absolutamente delicioso.


História simples e bem contada, interpretada por gente incrível. - Destaque pro Antônio Bandeiras que arrebenta. Aliás, ele deveria parar de fazer tanto filme bosta e apostar em trabalhos sérios.


É, a vida é mesmo cheia de som e fúria. E no fim, não quer dizer nada mesmo.



Machete

Machete, de Ethan Maniquis e Robert Rodriguez, 2010

Os cinéfilos com menos de 20 anos nunca conhecerão os prazeres sentidos pelos ratos de locadora, tipos que surgiram com a popularização do video cassete em meados dos anos 80 e que tiveram seu ápice nos gloriosos anos 90. Entrar numa videolocadora e passar horas examinando as capinhas dos filmes, lendo sinopses e vasculhando obscuridades era uma esporte tão estimulante quanto o próprio ato de ver os filmes.

É esse prazer que eclode quando se vê essa recente produção do Rodriguez, fruto tardio do projeto Grindhouse, que vingou simplesmente porque a idéia era a cara das podreiras geniais lançadas em vídeo, numa época muito diferente dessa era bundona em que vivemos.

Enfim, Machete é o Cara. Ele mata os caras maus, ele pega todas as minas. É feio pra caraio, e arrebenta todos que cruzarem seu caminho. O destaque do elenco de apoio - além do excepcional Robert deNiro - fica com a Lindsay Lohan, que parece que encontrou seu nicho nesse tipo de filme que já nasce cult. Espero que ela se reencontre, abandone logo essas produçõeszinhas Disney e abrace de ver o capeta.

[ah, e a Michelle Rodriguez ainda é uma delícia]



  

O Que Há, Tigresa?

What's Up, Tiger Lily?, de Woody Allen, 1966.


Fico pensando no Woody Allen, com 31 anos, já com alguma fama propiciada pelos seus shows de humor e aparições na tevê, comprando os direitos de um filme de espionagem japonês e chamando alguns amigos pra redublar o filme. Uma idéia absolutamente idiota, mas que resultou muito melhor do que se poderia imaginar.


De início, o filme japonês é bom. Isso ajuda muito. E as piadas são levadas a sério [naquelas, né], aparecendo sempre em função de um roteiro. Absurdo, é claro, mas é mais consistente que muito filme por aí. Está anos luz à frente de um KungFusão, por exemplo, que é engraçado, mas apelão e infantil demais.


Uma hora e vinte de divertidas bobagens. E umas 3 ou 4 rápidas intervenções de Woody, que só fazem crescer esta pérola que nasceu e deve permanecer obscura.



segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Deixa Ela Entrar

Låt Den Rätte Komma In, de Tomas Alfredson, 2009


Filme sueco com cara de filme sueco [o que é um baita elogio]. O tema é vampirismo, e o tratamento é de uma humanidade e poesia que eu não via desde o Martin, do George Romero. História de vampiro, protagonizado por crianças, sem em momento algum ser bundona ou infantil.


O que me parece admirável é esse realismo do filme que se conjuga com um espírito fantástico de maneira formidável. Nada de vampiro que come repolho. Nada de brilhar no sol. Aqui a vida é sofrida e dói, e é preciso matar gente inocente pra beber sangue.


Deixa eu ver o que mais. Gosto do fato das crianças serem alvo de coisas ruins. Geralmente coisas ruins não acontecem com as crianças no cinema. Mas a vida costuma foder todo mundo. Seja velho ou criança.


Belíssimo filme.







quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A Mãe e a Puta

La Maman et la Putain, de Jean Eustache, 1973.

Sempre fiquei meio cabrero de ver esse filme. Não sei se pelas 3 horas e meia de duração ou pelo receio de ver um filme que aparentemente muita putaria. Caramba, como eu sou bobo.

A mãe e a Puta pode ser definido como yakult de dois litro, ou um woodyallen de três horas. É um filmaço absurdo, uma daquelas coisas que depois que vc assiste, pensa: "meu deus, como eu pude viver sem ter visto isso". Bem, em suma, gostei muito do filme. E foi um baita prazer assistir.

E é a beleza da Françoise Lebrun, o carisma delicioso de Jean-Pierre Léaud, os diálogos afiadíssimos e de uma inteligência espantosa, a fotografia crua em preto e branco, as músicas que estão lá por muitos motivos, sendo o maior deles proporcionar prazer pela sua fruição.

Filmaço.





Rebelde Com Causa

Youth in Revolt, de Miguel Arteta, 2009.


Esse é um daqueles deliciosos filmes que aparecem de quando em quando, cujo personagem é um virgem de bom coração que precisa conquistar a garota de seus sonhos. Mas para isso ele terá que deixar de ser um garoto bonzinho e despertar seu lado arruaceiro e canalha, tornando-se assim um cara mais desejável.


Michael Cera já se tornou o ator símbolo da geração indie, e tem um carisma imbatível.


E a idéia de que é preciso fazer com que seu lado selvagem/mau conviva em paz com seu lado bonzinho/comportado é muito bem explorada.



A Carne

La Carne, de Marco Ferreri, 1991.

Esse é divertido, sacana, perturbador e surpreendente.

Ferreri apresenta essa atriz deliciosa, Francesca Dellera, que deixa o protagonista completamente pirado de desejo. Ficam naquela reclusão movida a comida e sexo, que, evidentemente, enlouquecerá ambos.

Bom Ferreri, que surpreendentemente me surpreendeu no final.

Eu Te Amo

I Love You, Marco Ferreri, 1986.

Christopher Lambert tem minha simpatia desde que era um garoto fascinado pelo Highlander. Essa produção barata de Marco Ferreri se apóia muito no carisma de seu protagonista, já que em muitos momentos o filme meio que não vai pra lugar nenhum.

Mas quando o Lambert acha essa boneca que diz "eu te amo", tudo muda. Tanto a vida do personagem quanto o interesse de quem assiste. Desejo e desilusão por um objeto inanimado é sempre interessante de se ver, e funciona muito bem pra mostrar uma sociedade incapaz de criar laços humanos verdadeiros.

E o mar como símbolo de uma possível libertação me agradou muito.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Enter The Void

Enter The Void, de Gaspar Noé, 2009

Depois de revirar o estômago do mundo inteiro com o visceral Irreversível, Noé volta um pouco mais espiritual e poético, contudo lidando com questões já caras à sua breve filmografia, como a busca da felicidade em meio a um mundo violento, caótico e brutal.

Enter the void é filmado todo em primeira pessoa. Somos os olhos do protagonista, o que surpreendentemente funciona muito bem. Cheio de cores e com aquela câmera que não sossega um minuto sequer, há momentos de beleza inquestionável.

Pena que a longa duração atrapalhe o ritmo, dando um puta dum sono. Quarenta minutinhos a menos fariam muito bem ao filme.

sábado, 8 de janeiro de 2011

A Terça Parte Da Noite

Trzecia Czesc Nocy, de Andrzej Zulawski, 1971.


Zulawsi é sempre um prazer perverso.


Neste filme de ares bíblicos e apocalípticos, somos jogados no meio do caos da invasão russa à Polônia. Muitas mortes, perseguições e atrocidades marcam as desventuras do personagem principal, que tem a família assassinada logo no início do filme.


Mais tarde ele encontrará um duplo de sua esposa. Esse jogo de espelhos se repetirá durante todo o filme, misturando alucinações, profecias e loucura. 


E o trabalho de alimentar pulgas infectadas com tifo com seu próprio sangue é uma metáfora brilhante e repulsiva da situação da Polônia naquele momento.


Grande Zulawski!

Quanto Dura o Amor?

Quanto Dura o Amor, de Roberto Moreira, 2010.

O primeiro filme do Moreira, Contra Todos, era uma cacetada no rim, filmado em digital e editado em descontinuidade. Ainda acho o filme um tanto preconceituoso, mas é um filme forte. Isso é inegável.

Aqui, em seu segundo longa, Moreira sossega um pouco de querer chocar o público, o que é muito bom. Cria uma personagem que sai de Paulínia, em busca de trabalho e amor em São Paulo. E de quebra já bota no foco outros personagens meio tortos na vida, todos em busca de um pouco de afago no coração.

É bom, mas é que nem caixinha de bis. Quando você já está gostando da experiência, acaba. E esse é o maior problema do filme: dura pouco.

Assim como o Amor.


sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Vincere

Vincere, de Marco Bellocchio, 2009


O grande diretor italiano se debruça aqui sobre a história da amante e do filho bastardo de Benito Mussolini, pessoas que o ditador tentará com todas as suas forças manter longe do olhar do público. 


Acompanhar a ascensão de Mussolini é de certa forma fascinante. Tanto quanto ver as últimas horas de Hitler no filme A Queda, ou as últimas de Cristo no A Paixão de Cristo. 


Mas Bellocchio acerta não somente na densidade dramática e na pesquisa histórica, impecável. É um filme vivo, muito vivo. As imagens de época que se misturam com as encenações são ótimas, e o filme cresce muito quando o ator Filippo Timi some do filme, para dar lugar a imagens reis do Duce.


Fascinante.






Última Parada: 174

Última Parada: 174, de Bruno Barreto, 2008

Assisti esse filme ontem, na globo, depois de muito preconceito. Me explico: o documentário do José Padilha, Ônibus 174, é um daqueles trabalhos raros, que mudam tudo. É simplesmente perfeito. Todo o trabalho de pesquisa sobre a vida do Sandro Nascimento foi feita pela equipe do Padilha, e criar uma ficção em torno disso sempre me pareceu desnecessária e inútil. Ainda mais dirigida pelo Barreto.

Mas é um bom filme. Não é piegas, nem excessivamente melodramático. É um filme honesto, forte, interessante. Seu grande trunfo é não tratar o Sandro como coitadinho, e sim como um personagem trágico, se fodendo sempre, impulsionado por forças que estão bem além da sua. O roteirista é o Bráulio Mantovani, isso já diz algo.

Tá a anos-luz do doc do Padilha. Mas ainda assim é um bom filme.

Cisne Negro


Black Swan, de Darren Aronofsky, 2010.

Natalie Portman é a bailarina que busca a perfeição em seu trabalho. Ao ganhar um papel de destaque na companhia de balé em que atua, a doce garota terá que lidar com o seu lado 'cisne negro' para conseguir desempenhar bem seu papel.

Filme dramaticamente tenso e forte, com história não tão surpreendente, mas a direção intensa do Aronofsky faz toda a diferença do mundo. Sua câmera passional vai acompanhando toda a loucura da bailarina, sempre perto, muito perto, das intensas emoções dos atores.

Um grande prazer de filme